As larguras totais e fracções de decaímento do bosão de Higgs
no quadro do Modelo Padrão estão representadas na
figura 3.1. As amplitudes de decaímento nos diversos canais
foram calculadas em função da massa do Higgs. A massa
do quark foi considerada variável como função de
.
As expressões utilizadas para
e
foram retiradas de [33,34].
Os decaímentos do Higgs para os bosões mediadores das forças
electrofracas foram calculadas de forma a incluir também decaímentos
indirectos através de estados virtuais dos bosões vectoriais.
As expressões utilizadas nestes casos serão apresentadas
neste capítulo.
A largura do bosão de Higgs aumenta com a sua massa à medida que novos
canais de decaímento se tornam viáveis e o
espaço de fases disponível para cada decaímento aumenta.
Para valores de inferiores a 100 GeV/c
,
a largura é basicamente proporcional à massa e toma valores de MeV;
para valores de massa superiores a 200 GeV/c
, a largura
é aproximadamente proporcional a
e chega a dezenas de GeV.
O rápido crescimento entre 100 GeV/c
e 200 GeV/c
é devido à
abertura dos canais de decaímento para os bosões electrofracos massivos.
Para massas da ordem dos TeV/c
, a largura atingiria
valores da mesma ordem e o campo de Higgs deixaria de corresponder a uma
ressonância.
Na região de massa
, o decaímento predominante
do bosão de Higgs é para
enquanto que para
140 GeV/c
o decaímento predominante se
processa através de um par de
s.
O acoplamento do bosão de Higgs aos fermiões é proporcional ao quadrado
da massa destas partículas. Na região de
baixas massas, onde o decaímento
é dominante, representa 90% da taxa total, enquanto as fracções
de
e
são de cerca de 7.5% e 4%, respectivamente.
Os decaímentos para pares de gluões ou fotões ocorrem através de
de partículas com massa e carga (carga de
côr no caso dos gluões e carga eléctrica no caso dos fotões).
A largura parcial de
é cerca de 350 vezes maior do que a de
ou
,
uma vez que a primeira depende da força forte enquanto as últimas
dependem das interacções electrofracas.
O decaímento para
, embora limitado pela energia necessária
para a produção de um bosão Z, é ,quando
possível, mais provável do que o decaímento para dois fotões.
Os decaímentos que ocorrem à ordem têm amplitudes complexas.
Os
de partículas reais contribuem
para a parte imaginária da amplitude enquanto a parte real provém de
de partículas necessariamente virtuais.
A contribuição dominante para os decaímentos para
e
é dada pelos bosões
, no caso
dos decaímentos para
tanto os quarks
como os quarks
têm contribuições importantes.
É importante notar que os decaímentos indirectos como
representam a
contribuição dominante para a largura total do bosão de Higgs num
vasto intervalo de massas. Os decaímentos através de estados virtuais dos
bosões vectoriais massivos (W e Z) têm de ser
considerados. Mesmo quando é possivel a produção de um ou dos dois bosões na
camada de massa, o cálculo das amplitudes totais
(V = W, Z) e
como processos completos é necessário para se considerarem os efeitos das
larguras finitas dos bosões vectoriais
[36].
A amplitude de decaímento
é dada por:
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(4.1) |
onde representa o espaço de fases dos quatro fermiões que
pode ser decomposto no produto entre os três
espaços de fases, correspondentes ao decaímento para
s e os
posteriores decaímentos de cada bosão:
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![]() |
![]() |
|
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(4.2) |
Se se desprezarem as massas dos fermiões, os espaços de fases
mantêm apenas a dependência no ângulo sólido de um só dos
fermiões no referêncial do W a decair. O espaço de fases para o
decaímento primário do Higgs depende ainda do quadrado da massa do
Higgs e dos quadrados dos 4-momentos de e
,
(que podem ser vistos como massas efectivas para os bosões virtuais).
O quadrado do elemento de matriz total é ainda função dos momentos dos
fermiões, mas a integração nestas variáveis é
fácilmente conseguida se for feita no referêncial do W correspondente,
onde os únicos 4-vectores independentes são os
4-momentos dos bosões a decair ( e
):
![]() |
(4.3) |
Assim, após a integração possível no espaço de fases,
o quadrado do elemento de matriz depende apenas de
,
,
, e
. Existe ainda uma dependência
nas larguras parciais do W, mas quando se somam todos os
estados finais essa dependência desaparece, sendo substituída por
um factor de
.
aparece apenas em produtos de 4-momentos ou elevado ao quadrado e,
no fim dos cálculos, a largura será apenas
função das massas do bosão de Higgs e nos valores de massa efectiva e
própria dos
s.
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(4.4) |
onde
em que X é zero no quadro do Modelo Padrão e representa
eventuais contribuições de processos anómalos; e as funções e
são definidas como:
![]() |
(4.6) |
![]() |
(4.7) |
é uma função cinemática que surge no cálculo
do decaímento primário do Higgs e
é a distribuição de probabilidade que pesa
cada "acontecimento" de acordo com o espectro de massa do bosão W.
1/
é uma distribuição de Breit-Wigner e está
representada na figura 3.2 tanto para bosões W como para
bosões Z.
é um factor constante, igual a 2 para bosões W.
A amplitude de
,
é calculada seguindo o mesmo processo e tem como resultado
uma expressão equivalente a 3.5
com a única diferença de que o factor
é 1 para V=Z,
uma vez que em
se têm de considerar duas
partículas idênticas.
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é semelhante à expressão para o decaímento
em
s reais, depois de feita a substituição
. A expressão calculada assumindo apenas
s reais não pode ser directamente 'traduzida' para
esta situação, uma vez que, na sua forma final, se perde informação
relativa aos vários termos nos dois
que se cancelam entre si mas, por outro lado, a substituição
na expressão completa
apresenta o decaímento para bosões reais como caso particular.
Na figura 3.3, comparam-se as secções eficazes de
obtidas assumindo pares de
s reais ou
estados finais de quatro fermiões. Os cálculos de
e
reproduzem a largura de
decaímento de
se
. Para valores
inferiores da massa do Higgs é necessário incluir os
estados virtuais dos dois
s. No caso de um dos bosões ser considerado
real a energia disponível para o bosão virtual
é reduzida. Assumir que ambos podem ser virtuais é equivalente a somar
ambas as possibilidades (
e
),
excepto numa pequena região de cerca de
, na qual tal procedimento
levaria a uma sobre-estimação da largura de
decaímento. Só o cálculo de
, como um processo completo, permite uma descrição
correcta válida para qualquer valor da massa do
bosão de Higgs.
A estrutura tensorial dos acoplamentos anómalos do bosão de Higgs
aos bosões vectoriais massivos é diferente da existente
no Modelo Padrão. No caso dos aco-plamentos anómalos, os vértices
dependem
dos momentos de todas as partículas
intervenientes. As contribuições anómalas para os decaímentos
são descritas por funções
onde
é o novo tensor adicionado ao
vértice
do Modelo Padrão
(equação 3.5).
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![]() |
![]() |
(4.8) |
A e B
(
,
) são factores constantes definidos como:
No caso dos decaímentos
e
, a invariância de padrão
electromagnética impõe restrições à expressão geral dos
acoplamentos correspondentes:
![]() |
(4.10) |
onde q é o momento do Z ou e k é o momento do (segundo)
fotão.
representa um factor de forma que é apenas função de
e
e pode ser visto como um "acoplamento efectivo".
No quadro do Modelo Padrão os acoplamentos do bosão de Higgs a fotões
dão-se apenas a ordem , através de
partículas carregadas e massivas. Os "acoplamentos efectivos"
são
obtidos através da integração dos momentos destas
partículas nos
e tomam valores complexos. As expressões de
e
foram retiradas de
[36].
Os acoplamentos anómalos aparecem ao nível árvore e correspondem a factores constantes reais que multiplicam cada um dos acoplamentos anómalos do lagrangeano efectivo:
![]() |
(4.11) |
![]() |
(4.12) |
Para incluir a largura do Z e calcular a amplitude total
segue-se o procedimento utilizado em
.
![]() |
(4.13) |
onde
![]() |
(4.14) |
Todas as expressões obtidas para os decaímentos do bosão
de Higgs em bosões mediadores das forças electrofracas, quer no quadro do
Modelo Padrão quer incluindo os acoplamentos anómalos, foram comparados
com resultados publicados anteriormente.
As expressões obtidas são compatíveis com a expressão completa de
no quadro do Modelo
Padrão (quando
) e com as expressões para
,
e
no limite real, em que
=
[33,35].
Todas as expressões para decaímentos anómalos foram comparadas com
[26] no limite real
e são concordantes, a única excessão é um factor global de dois
na expressão de
mas este afectaria também a contribuição do Modelo Padrão que
concorda com os artigos anteriores.
A evolução dos decaímentos parciais do bosão de Higgs para bosões
vectoriais com cada um dos parâmetros
está representada na figura 3.4 para um valor fixo da massa do
bosão de Higgs (80 GeV/c
). Todos os parâmetros
contribuem para determinar as taxas de decaímento para
e
,
mas no caso dos decaímentos para dois
fotões ou dois
s existem parâmetros que não influenciam as amplitudes.
Os decaímentos para fotões são agora processos de ordem e podem,
portanto, ser aumentados significativamente.
No Modelo Padrão as amplitudes de
e
são muito pequenas e
desprezáveis na maior parte das aplicações, na
presença de acoplamentos anómalos, e dependendo dos valores dos parâmetros
livres,
pode mesmo tornar-se o decaímento dominante para
as região de baixas massas do bosão de
Higgs.
Também os decaímentos para pares de bosões vectoriais com massas não
nulas são alterados pela presença dos
acoplamentos anómalos, embora estes decaímentos já existissem ao nível
árvore no quadro do Modelo Padrão.
Neste caso, a interferência entre os termos anómalos e os termos padrão é
importante e, consoante os valores de
pode ter uma contribuição construtiva ou destrutiva. Assim, enquanto
as amplitudes dos decaímentos para fotões são
sempre aumentadas pela presença de acoplamentos anómalos com valores a que sejamos
sensíveis, as amplitudes dos
decaímentos para
e
podem ser aumentadas ou diminuídas pela
presença destes acoplamentos.
No cenário em que apenas e
são diferentes de zero, as
larguras parciais do bosão de Higgs dependem
fortemente da relação entre os dois parâmetros. A dependência é especialmente
forte no caso dos decaímentos para
fotões. Na figura 3.5 estão representadas as linhas de largura constante
do bosão de Higgs para dois valores de
massa diferentes. Para
90 GeV/c
, as linhas de nível de
são muito próximas de
= constante, já que
é o único
decaímento que é significativamente alterado
pela presença dos acoplamentos anómalos. Já no caso de valores de massa
mais elevados (mesmo que inferiores a 2
: por
exemplo 150 GeV/c
), todos os decaímentos para bosões vectoriais contribuem
e são afectados, dando origem a diferentes curvas
no plano
vs
para as linhas de largura constante.
Considerando ainda uma massa do bosão de Higgs de 150 GeV/c,
estão representadas na figura
3.6 as variações da largura total e das percentagens de
decaímento com o valor de um acoplamento comum F.
O decaímento para fotões, desprezável quando
=0, aumenta com
. Por outro lado, o decaímento para
decresce para valores de
positivos, caso em que a interferência entre
as componentes padrão e anómalas do acoplamento
é destrutiva.
|
|
Na figura 3.7 estão representadas as taxas de decaímento em
função da massa do bosão de Higgs
para um valor fixo de
TeV
.
Na presença deste acoplamento, os processos
e
tornam-se os
decaímentos dominantes para uma grande região de massa do bosão
de Higgs; também
a amplitude de
aumenta mas, por outro lado, a amplitude de
diminui devido à interferência destrutiva entre
os vértices anómalos e o vértice existente no
quadro do Modelo Padrão.
1000