A procura do bosão de Higgs em estados finais com fotões foi feita pelo
grupo português da colaboração DELPHI e é descrito na referência
[40]. Os dados foram recolhidos por DELPHI a
GeV e correspondem a 47.7 pb
. A análise de dados não faz parte
do trabalho descrito na tese e neste capítulo será feita apenas
uma revisão dos seus pontos fundamentais.
Foram observados nos dados 29 acontecimentos compatíveis com os três
processos da figura 4.1 [40]. Foi observado um acontecimento
com apenas três fotões no estado final, 7 acontecimentos
e 21 acontecimentos
. Estes números
são compatíveis com os números esperados no quadro do Modelo Padrão,
correspondentes a processos de fundo, como se mostra na tabela 5.1.
Na tabela 5.1 comparam-se os números de acontecimentos observados
e esperados, para cada estado final e para diferentes níveis de selecção de acontecimentos. O primeiro nível corresponde a uma selecção básica de
cada topologia que se baseia no número de traços carregados e deposições de energia neutra nos calorímetros;
são seleccionados
acontecimentos com jactos e um ou dois fotões ou com mais que dois fotões
isolados e sem partículas carregadas. No segundo nível impõem-se
alguns critérios de qualidade aos acontecimentos, que se baseiam nomeadamente
na energia e ângulo polar de cada partícula; para o estado final com
três fotões requere-se um terceiro fotão com uma energia significativa. O
terceiro nível aplica-se apenas ao estado final
e corresponde à classificação dos jactos dos quarks
.
A eficiência para a detecção de cada estado final é razoavelmente constante
nos intervalos de energia e ângulo polar considerados. No entanto, depende da
massa do Higgs que se procura. Existe um limite cinemático a
GeV/c
,
acima do qual é impossível a produção de um Higgs na sua camada de
massa. A eficiência é quase constante para valores baixos da massa mas,
quando se aproxima o valor limite a
eficiência diminui, já que se torna impossível a
detecção das partículas que recuam contra o bosão de Higgs. Mal se
ultrapassa o limite cinemático, a eficiência sobre já que se
passam a produzir apenas bosões de Higgs virtuais, com uma probabilidade
muito maior de que a sua massa efectiva permita a detecção.
Para estudar a cinemática e a eficiência de detecção destes acontecimentos e para determinar critérios de selecção que os permitam distinguir de acontecimentos de processos de fundo foram utilizadas amostras geradas com Pythia [7]. No Pythia utilizaram-se os vértices existentes no Modelo Padrão mas foram feitas comparações com as distribuições geradas com o CompHEP, com a descrição completa dos vértices anómalos.
As distribuições ângulares das partículas de estado final não são
significativamente alteradas pelos acoplamentos anómalos do bosão de Higgs,
De facto, como foi referido no capítulo II-3, a estrutura de Lorentz dos
vértices
and
anómalos é igual à dos vértices padrão.
A situação é diferente no caso dos acoplamentos
: os
acoplamentos anómalos têm uma estrutura mais complexa do que a existente no
quadro do Modelo Padrão e, assim, as distribuições finais dependem do valor
específico de cada parâmetro
. No entanto, esta
diferença não é suficientemente forte para que os seus efeitos sejam
sensíveis depois de passados pela simulação completa da detecção e pode
ser desprezada.
Também a mudança na largura total do bosão de Higgs não foi tida em
conta no Pythia. No entanto, a reconstrução do espectro de massa do bosão de
Higgs depois da simulação mostra que a análise também não é
sensível a esta mudança. Os espectros reconstruídos nas diversas
análises apresentam resoluções de massa que variam entre 1 GeV/c
e 3 GeV/c
, e,
na região dos limites atingidos, a largura total é sempre
inferior a 1 GeV.
Foram também simulados todos os processos padrão que originam os mesmos
estados finais. Os processos que originam a parte mais significativa do fundo
nestas análises são originados pelo Bremsstrahlung da QED associado com
/
(no caso dos estados finais
hadrónicos) ou
através da troca de um
electrão no canal
(dando origem a três fotões no estado final).
Uma vez que o número de candidatos nos dados é compatível com o número de acontecimentos de fundo esperados, foram derivados limites máximos para as secções eficazes de cada processo, independentemente do modelo considerado. Os limites obtidos estão representados na figura 5.1 em função da massa do bosão de Higgs.
Os limites de exclusão, a um nível de confiança de 95%, foram
obtidos utilizando o método PDG [42].
Este é um método frequentista modificado no qual a presença de
fundo nos
dados é considerado, não através da subtração das previsões para o
fundo nos valores observados, mas pela normalização do nível de
confiança observado com a hipótese de existir
sinal+fundo pelo nível de
confiança obtido para a hipótese de existir apenas fundo. O nível de
confiança para a existência de sinal é dado pelo entre estes
dois níveis de confiança, que,
numa experiência de contagem, são dados
pela probabilidade de Poisson de que o número de acontecimentos em cada caso
seja menor do que o observado (
).
O nível de confiança na exclusão de um sinal é então:
![]() |
(5.1) |
em que é o número de acontecimentos esperado para o fundo e
será o
limite na taxa de sinal a um nível de confiança
.
Para que os limites sejam expressos em função da massa do bosão de Higgs,
tem de se ter em conta a resolução de massa de cada análise. O método
descrito foi utilizado para cada valor de massa mas cada acontecimento foi
considerado para todas as massas compreendidas no intervalo
.
Os limites superiores obtidos para as secções eficazes dos três processos, a
95% CL, são de cerca de 0.2 pb. Os limites dependem principalmente da
relação entre os números de acontecimentos observados e o número previsto
para os processos de fundo, assim, enquanto que os limites obtidos para os
estados finais com dois e três fotões são praticamente
constantes para todos os valores de massa, o limite obtido para o estado final
é pior para
entre 80 GeV/c
e 100 GeV/c
: região na
qual se concentram os acontecimentos de fundo correspondentes ao retorno
radiativo ao
.
Poder-se-iam obter limites acima do limite cinemático para a produção de um
bosão de Higgs na sua camada de massa, estes corresponderiam à produção de
uma partícula virtual, cujo pólo de massa se situasse acima da energia de
centro de massa mas cuja massa efectiva fosse inferior a este valor. Para as
secções eficazes atingirem os mesmos valores seria necessário que
os vértices de produção e
decaímento da partícula com tivessem uma amplitude muito superior às de uma partícula
produzida na camada de massa.
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