As previsões de cada um dos três geradores para as secções eficazes, totais e dife-renciais, dependem de diversos factores que devem ser escolhidos cuidadosamente. A escolha dos parâmetros electrofracos, assim como do método de cálculo para a sua evolução com a energia, são tão ou mais importantes do que os valores de corte que podem ser necessários. No KoralZ quase não há ambiguidade na escolha de parâmetros, o parâmetro livre mais relevante é um valor de corte para a energia mínima de colisão, que não pode ser exactamente zero, mesmo se se consideram nulas as massas dos dois quarks mais leves; no CompHEP, por outro lado, os dois tipos de informação são necessários: a utilização de uma função de estrutura implica uma definição da escala de factorização, enquanto que a geração explícita de fotões no estado final implica a definição de dois valores de corte, para evitar as divergências infra-vermelha e colinear. O gerador Pythia, sendo mais geral, permite uma maior liberdade. Neste caso, além dos valores de corte a utilizar é necessário escolher também quais os parâmetros electrofracos em que se baseiam os cálculos e quais as relações destes com as outras variáveis. Assim, a escolha de todos os parâmetros a utilizar é uma tarefa delicada. Os parâmetros mais adequados para a geração de um determinado processo podem não o ser para uma outra interacção e é necessário ter presente que um outro conjunto de parâmtros pode alterar significativamente os resultados.
As diferentes escolhas de parâmetros a utilizar no Pythia, para uma descrição correcta da radiação de estado inicial, foram objecto de um
estudo detalhado feito pela colaboração DELPHI [10]. Concluiu-se, nesse
estudo, que as secções eficazes para os processos
dependem do procedimento utilizado no cálculo da evolução da constante de
acoplamento electromagnético com a energia, mas dependem, principalmente,
da definição da escala de energia a que se calculam as secções eficazes nos
processos de geração da cascata de fotões.
Neste capítulo, e no resto da tese, apenas um conjunto de parâmetros
será utilizado. Estes parâmetros são os que foram utilizados na geração da única amostra de Pythia totalmente simulada, e correspondem portanto à
única previsão que pode ser directamente testada por comparação com os
dados reais. É, no
entanto, importante referir que podem existir outras escolhas que melhor
descrevam os dados, e, nomeadamente, que é possível reproduzir
exactamente as
previsões do KoralZ usando o método da cascata partónica no Pythia.
Na figura 3.3 estão representadas as distribuições das
energias de centro de massa efectivas
() obtidas com os três geradores, e o rácio entre as secções eficazes previstas em função de
.
As secções eficazes previstas para energias de colisão efectivas inferiores a
4 GeV não podem ser comparadas directamente, uma vez que os vários geradores
utilizam diferentes valores de corte nesta variável. Excluindo estes
acontecimentos, as secções eficazes obtidas
são: 108.8 pb no CompHEP, 108.1 pb
no KoralZ e 100.1 pb no Pythia.
A descrição geral é semelhante nos três geradores; as maiores
diferenças aparecem em regiões de menor secção eficaz e, nomeadamente, na
região de baixa energia. Parece, no entanto, existir um pequeno desvio na
posição do pico do Z
prevista pelo KoralZ em relação à que é prevista
pelos outros geradores.
As secções eficazes previstas para cada tipo de quark, pelo CompHEP e pelo KoralZ, estão indicadas na tabela 3.1.
As maiores diferenças aparecem nas secções eficazes de produção de quarks pesados e estão relacionadas com a definição dos valores de massa; essas diferenças explicam as discrepâncias visíveis na figura 3.3, na região de baixa energia - mais sensível às massas das partículas.
As secções eficazes obtidas com o CompHEP, sem utilizar a função de estrutura,
são sempre superiores às obtidas com o KoralZ para os casos
correspondentes. Esta diferença reflecte o facto de que o expoente de YFS,
que é necessário para descrever os efeitos da emissão de fotões de muito
baixa energia, é menor do que a unidade. As razões entre as secções eficazes obtidas com e sem o expoente de YFS são de 0.77 para acontecimentos
e 0.76 para acontecimentos
(com 28.0 pb calculados a partir dos diagramas em 3.1b) e 21.1
gerados no KoralZ). Ambos estes valores são compatíveis com o expoente de
YFS calculado para
K
= 5 GeV (fig. 3.3).
A comparação entre o CompHEP e os outros geradores não pode ser feita
directamente no que respeita ao número de fotões emitidos. De facto, a maior
parte dos fotões são emitidos colinearmente e não podem ser gerados
explicitamente no CompHEP - só são "detectáveis" ao causar um
desiquilibrio da energia e momento total quando são incluídos através
da função de estrutura.
Na figura 3.4, comparam-se as previsões de KoralZ e Pythia
referentes ao número de fotões com energia superior a 5 GeV. Os fotões
são separados em duas categorias conforme são emitidos abaixo de 2
(acima de 178
) ou nas regiões de ângulo polar em que é
possível a detecção. A contagem do número de fotões colineares
nos dados só pode originar valores de 0, 1 ou 2: a emissão de dois ou mais
fotões colineares por um mesmo feixe não é distinguível
da emissão de
um único fotão; a emissão de fotões pelos dois feixes é no entanto
sentida como uma diferença entre a energia e o momento visíveis. Este
efeito é também sentido na amostra gerada com CompHEP.
Na maior parte dos acontecimentos nenhum fotão é detectado e existe um fotão de alta energia emitido ao longo da linha de feixe. Os acontecimentos com apenas um fotão gerado são os que mais significativamente contribuem para a secção eficaz total: o número médio de fotões por acontecimento é de 1.019 no KoralZ e 1.010 no Pythia. A diferença é dominada pelos acontecimentos com dois fotões gerados. Existe, por outro lado, uma grande diferença na descrição da emissão. No KoralZ o número médio de fotões visíveis é de 0.32 e no Pythia o valor é de 0.34, enquanto que o número médio de fotões emitidos ao longo da linha de feixe é de 0.655 no KoralZ e 0.627 no Pythia.
Esta diferença na descrição do ângulo de emissão pode ser vista mais
claramente na figura
3.5, onde se comparam as previsões dos três geradores
para a energia e ângulo polar do fotão. Nos acontecimentos considerados
existe apenas um fotão energético (E GeV) e na região de
2
178
.
Os acontecimentos foram gerados no CompHEP sem utilizar a função de estrutura,
sendo assim visível a diferença na secção eficaz total.
A discrepância entre a distribuição de energia prevista pelo CompHEP e pelo
KoralZ pode dever-se à mesma causa, já que no KoralZ podem existir fotões
pouco energéticos a acompanhar o estado final
. A previsão
do Pythia mostra um efeito semelhante, que pode estar, por seu lado, relacionado
com o menor número total de fotões gerados.
A distribuição do ângulo de emissão, por outro lado, é muito semelhante
nas amostras geradas com KoralZ e CompHEP (embora existindo o factor de escala
devido ao expoente de YFS) mas muito diferente no Pythia; como foi referido, o
Pythia tende a criar mais fotões visíveis mas menos fotões colineares,
o que se trata de uma clara distorção da distribuição de ângulo polar do
Bremsstrahlung. Este efeito explica, pelo menos em parte, o valor reduzido da secção eficaz obtida com este gerador.
A comparação entre geradores mostra que existem variáveis muito
sensíveis às limitações necessárias para a descrição
de todos os efeitos da radiação de tra-vagem. As previsões do gerador Pythia
(utilizado com este conjunto específico de parâmetros) não são
compatíveis com as dos outros geradores: nem no que respeita à secção eficaz total nem se nos limitarmos à descrição da emissão de fotões
energéticos. Esta diferença não se pode ser atribuída a uma falha
no método da cascata de partões mas apenas a um problema da descrição dos
parâmetros electrofracos. Os outros dois geradores concordam nas previsões
para a generalidade do espaço de fases mas o acordo não é perfeito em
regiões cinemáticas de menor secção eficaz, nomeadamente na região de
entre 120 GeV e 140 GeV ou na região de
menor que a massa do Z
.
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