Antineutrinos de reactores nucleares detectados usando água
"A colaboração SNO+ detectou um sinal de antineutrinos produzidos em reactores nucleares utilizando um detector cheio de água - a primeira vez com um dispositivo deste tipo. O resultado foi seleccionado como Sugestão do Editor na revista PRL. A investigadora do LIP Sofia Andringa co-coordena o grupo de SNO+ que realizou a análise."
O SNO+ é um detector de neutrinos instalado no laboratório SNOLAB, no fundo de uma mina em Sudbury (Canadá). Actualmente, o detector está cheio com um líquido cintilante e a preparar-se para o seu principal objectivo: observar um processo de decaimento nuclear nunca antes detectado, cuja observação confirmaria que o neutrino é a sua própria antipartícula.
Mas em 2018, o detector continha água — meio que a colaboração utilizou para calibrar componentes do detector e caracterizar o fundo radioactivo originado pelos elementos fixos do detector (esfera de acrílico, cordas de suporte, etc). Os investigadores aproveitaram a oportunidade para realizar medidas adicionais. Analisando os dados recolhidos em 2018, a equipa encontrou um sinal (3,5-sigma) que corresponde ao esperado para antineutrinos provenientes de reactores nucleares a pelo menos 240 km de distância.
É a primeira vez que tal é conseguido usando um dispositivo deste tipo. A descoberta demonstra a possibilidade de se construírem detectores de neutrinos a partir de um material não tóxico, fácil de manusear e barato — factores chave para a utilização desta tecnologia na monitorização de reactores nucleares no mundo.
A investigadora do LIP Sofia Andringa co-coordena o grupo de SNO+ que realizou a análise e produziu o resultado agora publicado na revista Physical Review Letters. O artigo foi seleccionado como "Sugestão do Editor" e destacado na revista Physics da APS. A investigadora faz parte do Grupo de Física de Neutrinos do LIP, liderado por José Maneira e um membro fundador da Colaboração SNO+.
Os neutrinos (e antineutrinos) são uma das partículas mais abundantes do Universo. São também muito difíceis de detectar, por interagirem fracamente com a matéria. São produzidos no Sol (e nas outras estrelas), nas interacções de partículas cósmicas com a atmosfera, em decaimentos radioactivos e, por mão humana, em reactores nucleares e aceleradores de partículas.