Difusão inelástica profunda de muões polarizados num alvo polarizado
Os primeiros estudos sobre a estrutura do nucleão, usando a
difusão inelástica profunda polarizada de
leptões, foram efectuados em SLAC no início da década de 80. As experiências,
realizadas a baixa energia e possuindo um domínio cinemático relativamente
restrito, confirmaram na altura as regras de
soma de Bjorken e de Ellis-Jaffe, relativas ao
modelo dos quarks-partões.
Mais tarde, com o advento de feixes polarizados de energias muito mais elevadas
(i.e., uma ordem de grandeza superiores), a experiência EMC do acelerador SPS
do CERN, concebida com um domínio cinemático muito mais lato, descobriu uma clara
violação da regra de soma de Ellis-Jaffe: ==>No quadro do modelo
dos quarks-partões, a contribuição total dos spins dos quarks para o spin do
protão é pequena (cerca de 20%).
Neste contexto, foi proposta mais tarde no CERN uma experiência sua sucessora,
SMC, com o objectivo de medir novamente a difusão inelástica profunda polarizada
usando um alvo de protões polarizados, bem como de realizar uma primeira medida
usando um alvo de deuterões polarizados. Os seus resultados, combinados com os
de EMC, permitiram concluir que tanto a função de
estrutura do protão como a do neutrão estão de acordo com a regra de soma
de Bjorken e implicam a violação da regra de Ellis-Jaffe.
Apesar de em SMC já haver um procedimento de
selecção de sabor do quark
que absorve o fotão virtual, compreendeu-se que seria necessária a
reconstrução total do jet desse quark,
nomeadamente para a medida de Delta_g
através do
processo de fusão
fotão-gluão -> c cbar.
Tal implica, de facto, a
medida da assimetria de charme aberto,
para a qual é necessária a
identificação completa dos produtos da reacção.
Outros assuntos, exigindo também medidas semi-inclusivas
de difusão inelástica profunda,
começaram entretanto a despertar grande interesse na comunidade, nomeadamente
a transversidade.
Assim, foi aprovada pelo CERN a experiência COMPASS, com um duplo objectivo:
Estrutura da matéria:
Estudo da estrutura de spin do
nucleão, nomeadamente a
polarização do
gluão;
Decomposição das distribuições de helicidade
dos quarks.
Espectroscopia hadrónica:
Pesquisa de bariões duplamente charmosos,
i.e., do tipo ccq);
Polarizabilidade de partículas
instáveis usando a reacção de Primakov;
Procura de estados exóticos
(p.ex. mesões q qbar q qbar;
bariões q q q qbar q) e
híbridos
(p.ex. mesões q qbar g; e
bariões q q q g).
Para levar a cabo um programa de Física tão variado, COMPASS usa
feixes de muões
(de protões) de
alta intensidade interagindo
com um alvo polarizado (alvo de
microstrips de silício) ao qual se segue
um duplo espectrómetro, para pequenos e grandes ângulos, tendo por base
dois magnetes
(SM1 e SM2)
que, em conjugação, permitem obter uma grande
aceitância geométrica.
Estes são intercalados por conjuntos de:
detectores de posição, suportando alto fluxo:
MicroMegas (MicroMeshGas chambers)
GEMs (Gas Electron Multipliers);
detectores de posição, de larga aceitância:
câmaras proporcionais multifios (MWPCs),
câmaras de deriva planares (Drifts)
câmaras de tubos capilares (Straws)
detectores de boa resolução temporal
(para trigger):
hodoscópios de cintilação
detectores de identificação de partículas:
dois RICHs (Ring Imaging Cherenkovs)
dois grupos de calorímetros, electromagnético
e hadrónico (ECAL1 e HCAL1;
ECAL2 e HCAL2).
O sistema de aquisição de dados baseia-se na leitura em paralelo da electrónica
de 'front-end' e num sistema distribuído de
'event-builders'.
O LIP participa em COMPASS onde tomou a responsabilidade total do
sistema de controlo dos detectores em tempo real
  (DCS -- Detector Control System).
Contactos:
Professores Paula Bordalo e Sérgio Ramos Departamento de Física do IST.
Investigadores científicos no LIP-Lisboa e no CERN, em Genebra.