As partículas mais energéticas do mundo ao alcance do todos
"A Colaboração Pierre Auger acaba de tornar públicos 10% dos seus dados, recolhidos usando o maior detector de raios cósmicos dos mundo, reforçando na prática o seu compromisso com o paradigma da Ciência Aberta"
Estes dados estão acessíveis a todos aqueles que, com diferentes objectivos, possam beneficiar com a sua utilização: não apenas à comunidade científica em diversas áreas relacionadas, da física de partículas à astronomia, e à formação avançada em qualquer parte do mundo, mas também a todos os que os queiram utilizar no âmbito de projectos educativos ou de divulgação cientifica, assim como em projectos de ciência feita pelos cidadãos.
Desta forma, a Colaboração reforça na prática o seu compromisso com o paradigma da Ciência Aberta nas suas diversas componentes: à política de acesso aberto aos resultados científicos juntam-se os dados e os códigos abertos, promovendo também a criação de redes abertas de ciência e de ciência cidadã. O objectivo é aumentar a quantidade e diversidade de pessoas com a acesso real à ciência, aumentado assim o potencial de desenvolvimento global.
Os dados recolhidos pelo Observatório Pierre Auger têm permitido desvendar alguns dos enigmas que rodeiam as partículas cósmicas mais energéticas algumas vezes detectadas, com energias que podem ultrapassar os 1020 eV (o que corresponde à energia macroscópica de 16 joules). Estas partículas são predominantemente núcleos de átomos de diversos elementos (do hidrogénio ao silício) e chegam-nos de fontes astrofísicas fora da nossa galáxia.
Trata-se, pois, de mais um canal de observação do Universo, neste caso por meio de partículas, que se vem juntar à astronomia baseada na radiação electromagnética de uma diversidade de comprimentos de onda, dos raios X às ondas rádio passando pela luz visível. Todos juntos, estes canais de observação constituem a chamada astronomia multi-mensageiros, em que se têm feito grandes avanços nos últimos anos. Espera-se que os dados do Observatório Pierre Auger consigam, apesar da sua relativa complexidade, captem a atenção de uma parte da comunidade de astrónomos amadores, em Portugal como noutros países, desenvolvendo-se na sua utilização uma componente importante de ciência feita pelos cidadãos.
Quando uma partícula cósmica de muito alta energia atinge a atmosfera origina uma cascata de milhões de partículas. Os detectores do Observatório Pierre Auger observam as cascatas de partículas que atingem uma área de 3000 km2 na pampa Argentina, reconstruindo a partir da informação recolhida as características da partícula inicial.
Os dados do Observatório incluem os dados “em bruto” directamente recolhidos pelos instrumentos e dados já tratados por programas de reconstrução e análises com diversos níveis de complexidade. Os dados agora partilhados incluem todos os diversos níveis, de forma a permitir a sua utilização para uma diversidade de fins. São também disponibilizados programas que permitem analisar os dados, assim como toda a documentação associada.
Ralph Engel, o responsável máximo da Colaboração, salientou que “os dados do Observatório Pierre Auger, que foi fundado há mais de duas décadas, são o resultado de um amplo e duradouro investimento científico, humano e financeiro feito por uma grande colaboração internacional. São de excepcional valor para a comunidade científica mundial”. Prevê-se que mais dados sejam progressivamente tornados públicos. Os dados agora disponibilizados podem ser encontrados em: